«Não se percebe a gabarolice
dos estúpidos assassinos quando gritaram "Matámos a Charlie Hebdo".
Não se pode matar a Charlie
Hebdo. Não se pode matar a valente e hilariante revista que goza com tudo e
com todos desde os tempos em que se chamava Hara-Kiri. Muitos
poderosos tentaram censurar os satíricos da Charlie Hebdo. Nunca
conseguiram. Nunca conseguirão.
O que se pode matar é a liberdade de
expressão. Ou reforçá-la: foi o que fizeram os estúpidos assassinos que
reagiram a desenhos satíricos massacrando os autores com metralhadoras.
Desencadeou-se imediatamente uma onda de solidariedade francesa e internacional
para reafirmar a liberdade de expressão.
Os mais perigosos inimigos da
liberdade de expressão são pessoas inteligentes e bem-intencionadas que
publicamente pedem tratamento especial para a religião islâmica (ou qualquer
outra religião) para não "ferir susceptibilidades" ou "fazer
provocações". São pessoas liberais que defendem calmamente a protecção das
sensibilidades muçulmanas através da violação da liberdade de expressão, por
muito civilizada e politicamente correcta que seja a forma de censura que
propõem.
Mostraram-se quando foi o caso de
Salman Rushdie e mostrar-se-ão outra vez dentro em breve. Quem será o primeiro
idiota entre nós a dizer que a culpa foi dos assassinados da Charlie
Hebdo? Tem todo o direito de dizê-lo. É isso a liberdade de expressão.
Ser-se estúpido também é um direito. Até os assassinos o têm.»
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